O sistema de produção extensivo de bovinos é uma prática comum, utilizada há muito tempo no Brasil. Caracteriza-se pelo uso de grandes áreas de pastejo, onde os bovinos se alimentam principalmente ou quase exclusivamente de forragens naturais ou pastagens cultivadas, com baixo nível de intervenção humana. Essa forma de criação ainda representa a realidade para muitos pecuaristas. Mas será que essa prática é apenas uma tradição ou ainda apresenta vantagens econômico-financeiras no mercado da pecuária?
A produção bovina neste sistema suscita curiosidades e dúvidas. Para muitos, trata-se de uma opção mais sustentável e natural, onde o gado produz no seu próprio ritmo, sem o uso intensivo de suplementos nutricionais ou estratégias de aceleração do ganho de peso, seja na cria, na recria ou na engorda.
Se você busca alternativas viáveis para o seu negócio, descubra mais sobre o sistema extensivo de produção e avalie se ele atende aos seus objetivos.
O QUE É SISTEMA DE PRODUÇÃO EXTENSIVA DE BOVINOS?
O foco deste sistema está no baixo nível de investimento, uso de grandes extensões de terra e baixa intensidade de manejo. A produção ocorre de forma mais natural, com menor número de animais por área, menor estresse e despesas reduzidas.
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA EXTENSIVO?
No coração do sistema extensivo está a premissa de que o gado possa se nutrir basicamente do que encontra na forragem — seja em campo nativo ou em pastagens cultivadas. Isso exige manejo adequado da produção forrageira e da carga animal para garantir os benefícios do sistema e sua sustentabilidade. Portanto, a intervenção técnica na condução do sistema é fundamental.
Mesmo com manejo adequado, persistem desafios como a sazonalidade da produção e da qualidade das forragens. Em determinados períodos, a nutrição animal e a sanidade do rebanho podem ser comprometidas, o que afeta diretamente o desempenho animal. Eventos climáticos como secas, geadas ou excesso de chuvas podem comprometer a capacidade das forragens em atender às exigências nutricionais mínimas dos bovinos. Nesses momentos, a suplementação estratégica torna-se indispensável.
QUAIS AS VANTAGENS DO SISTEMA EXTENSIVO DE CRIAÇÃO DE GADO?
Historicamente, a bovinocultura extensiva passou de um modelo sem qualquer suplementação para o uso de sal comum e, posteriormente, sal mineralizado. Com a evolução técnica, surgiram os suplementos múltiplos (proteico-energéticos), que agregam fontes proteicas e energéticas aos minerais, representando um avanço técnico e economicamente viável dentro do sistema.
O sistema extensivo atual já requer certo nível de investimento e conhecimento técnico, especialmente em relação ao manejo de pastagens, estratégias de suplementação e sanidade do rebanho. A sustentabilidade do sistema também depende da conservação do solo: sem manejo adequado dos pastos e ajuste de carga animal, pode ocorrer exposição e degradação do solo, comprometendo a produtividade vegetal e a viabilidade econômica ao longo do tempo.
O sistema extensivo oferece vantagens como menores despesas operacionais, benefícios ecológicos decorrentes da menor mobilização do solo e da manutenção da vegetação nativa ou cultivada, preservação da biodiversidade e, quando bem conduzido, melhorias no bem-estar animal, dado o menor adensamento e a possibilidade de expressão dos comportamentos naturais de pastejo e locomoção. Além disso, pode-se observar ganhos sanitários, considerando que sistemas intensivos, como o confinamento, frequentemente apresentam maiores desafios sanitários devido à alta densidade animal e ao ambiente restrito.
É fundamental compreender que a pecuária é uma atividade dinâmica e que o sistema extensivo precisa evoluir para manter sua viabilidade. Pressões econômicas ligadas ao valor da terra e às exigências do mercado, aliadas ao avanço do conhecimento técnico, têm conduzido à busca de equilíbrio entre o grau de investimento necessário para aumentar a produtividade e a manutenção de características ecológicas e econômicas vantajosas do sistema extensivo.
QUAIS OS DESAFIOS E DESVANTAGENS DESSE SISTEMA?
Apesar de suas vantagens, o sistema extensivo enfrenta limitações importantes. A valorização das terras nas últimas décadas tem exigido maior retorno por hectare, induzindo a maior intervenção no sistema. Demandas do mercado, como a necessidade de encurtar o ciclo produtivo, aumentar a taxa de crescimento, reduzir a idade de abate e melhorar a aptidão reprodutiva, reforçam a tendência de transição para modelos mais tecnificados. Embora a base do sistema permaneça extensiva — com pastagens como principal fonte alimentar — cresce a participação de intervenções nutricionais, sanitárias e de manejo.
Outro fator que impulsiona essa transição é o melhoramento genético dos rebanhos. Animais com maior potencial produtivo exigem nutrição mais precisa, o que reforça a tendência de sistemas intermediários entre o modelo extensivo tradicional e os sistemas intensivos.
Do ponto de vista econômico, o sistema extensivo tradicional — com baixo nível de investimento — nem sempre é viável. O custo de produção não depende apenas das despesas, mas também da receita gerada. Um sistema com despesas reduzidas, mas que não gera receita suficiente, pode se tornar insustentável economicamente. Por isso, é necessário alcançar o equilíbrio entre investimentos e retorno financeiro. Esse raciocínio, que já impulsionou avanços na agricultura e na produção de leite, também se aplica à pecuária de corte. Embora o sistema puramente extensivo não seja mais cogitado na bovinocultura leiteira, ele ainda é expressivo na produção de carne bovina e pode permanecer como alternativa, desde que se ajuste às necessidades do mercado e às possibilidades dos pecuaristas.
A tomada de decisão sobre o sistema de produção a ser adotado é complexa. Nosso objetivo é apoiar o pecuarista na análise dos fatores envolvidos, destacando que não existe um modelo único que atenda a todos os segmentos da pecuária. Por exemplo, a combinação de sistemas — como cria a pasto e recria/engorda com maior aporte nutricional — pode ser uma solução viável. A tendência atual indica a adoção de sistemas intermediários, com base extensiva, mas com maior controle nutricional e sanitário. Compreender essa transição e aplicar esse conhecimento de forma consciente pode ser determinante para o sucesso da pecuária brasileira, contribuindo para sua consolidação como referência mundial em produção de carne.