Desmame de bezerros

Desmame de bezerros

O desmame de bezerros é um processo crucial na pecuária sustentável de corte e de leite no Brasil, com impacto direto na saúde, no bem-estar e no desempenho produtivo futuro do rebanho. Trata-se de uma transição nutricional e comportamental que exige planejamento para minimizar o estresse, evitar a queda de ganho de peso e reduzir a incidência de enfermidades. O suporte técnico e o uso de suplementos adequados, como concentrados proteico-energéticos, núcleos minerais e fontes de fibra efetiva na fase pós-desmame, favorecem a adaptação intestinal, reforçam a imunidade e sustentam o crescimento.

Com a crescente demanda por eficiência e sustentabilidade, otimizar o desmame tornou-se prioridade nas fazendas brasileiras. Um protocolo bem definido reduz perdas produtivas, melhora os índices reprodutivos das matrizes ao abreviar o anestro pós-parto e contribui para sistemas mais resilientes em períodos de seca ou de menor oferta forrageira. Nos tópicos a seguir, são apresentadas estratégias e desafios do processo, com ênfase em decisões de manejo e nutrição animal adaptadas às condições climáticas e de pastagens do país.

O que é desmame de bezerros

O desmame de bezerros é a separação planejada entre bezerro e vaca, interrompendo o aleitamento e estabelecendo uma dieta sólida como principal fonte de nutrientes. O êxito depende da maturidade fisiológica do rúmen, da adaptação alimentar e da redução de fatores de estresse ambientais, sanitários e sociais.

A preparação inclui oferta antecipada de concentrado palatável, água limpa e fresca, sombra adequada e cochos acessíveis, além de calendário sanitário ajustado à realidade da fazenda.

Estratégias para um desmame eficiente

No Brasil, a idade de desmame mais comum em sistemas de corte situa-se entre 6 e 8 meses, mas o critério ideal deve ser zootécnico: peso corporal e consumo consistente de alimento sólido que assegurem a manutenção do ganho médio diário após a separação. Em geral, recomenda-se que o bezerro alcance entre 150 e 180 kg no momento do desmame, dependendo da raça e do sistema de criação. Em situações de restrição forrageira, é possível antecipar o desmame, desde que o bezerro esteja adaptado ao concentrado e receba suporte nutricional adequado durante a recria.

Nesses casos, adota-se o chamado desmame precoce, prática amplamente utilizada na região Sul do Brasil. Essa estratégia visa preservar a condição corporal das vacas, manter boas taxas de prenhez e otimizar o uso das pastagens, especialmente em períodos de escassez. O sucesso do desmame precoce depende de planejamento nutricional rigoroso e de acompanhamento técnico, uma vez que o bezerro ainda apresenta desenvolvimento ruminal incompleto.

A suplementação proteico-energética antes e após o desmame ajuda a reduzir perdas de desempenho e melhora o crescimento inicial.

Métodos de desmame

Entre os métodos de desmame utilizados no Brasil, destacam-se o desmame abrupto, o desmame pela cerca (fenceline weaning) e o desmame em duas etapas, com dispositivos nasais que impedem a mamada. O creep feeding, quando adotado nas semanas anteriores, não é um método de separação, mas sim uma estratégia nutricional preparatória que reduz o estresse e a queda de consumo alimentar no dia do desmame.

A escolha do método deve considerar a infraestrutura da propriedade, o nível de manejo do pessoal, o tipo de pastagem e o risco sanitário. Em regiões de clima quente, o desmame pela cerca costuma gerar menor vocalização, maior tempo de pastejo logo após a separação e recuperação mais rápida do ganho de peso.

Importância do desmame para a saúde dos bezerros

Um desmame bem conduzido preserva a integridade das vilosidades intestinais, mantém o equilíbrio da microbiota e evita a imunossupressão transitória causada pelo estresse da separação.

O manejo inadequado, especialmente o desmame abrupto, pode elevar a incidência de doenças respiratórias e entéricas. A manutenção do ganho médio diário (GMD) durante as quatro semanas pós-desmame é um indicador confiável de sucesso.

A prevenção de déficits nutricionais nesse período reduz a ocorrência de diarreias nutricionais, enfermidades respiratórias e perda de escore corporal. Em termos econômicos, preservar o GMD é determinante para o peso final na desmama e para o desempenho subsequente na recria e terminação.

Dietas recomendadas após o desmame

A dieta pós-desmame deve apresentar teor de proteína bruta entre 14 e 18%, conforme a categoria e o sistema produtivo, com adequada oferta de energia e fibra fisicamente efetiva para estimular a ruminação e o tamponamento ruminal. É essencial garantir o fornecimento equilibrado de macro e microminerais, especialmente fósforo, cobre, zinco, cobalto, selênio e iodo, devido às frequentes deficiências em pastagens tropicais.

A inclusão de aditivos como ionóforos pode melhorar a eficiência alimentar, desde que o uso esteja em conformidade com a legislação brasileira e seja supervisionado por profissional habilitado. Água limpa e abundante, cochos bem dimensionados e oferta fracionada de alimento ao longo do dia são fundamentais para evitar distúrbios digestivos, como a acidose subclínica.

Creep feeding como preparação para o desmame

O creep feeding, ofertado em piquetes com acesso exclusivo aos bezerros, favorece o desenvolvimento das papilas ruminais e reduz o estresse metabólico. Essa prática estimula precocemente o consumo de concentrado, desenvolve a microbiota ruminal e cria memória de cocho.

O consumo médio esperado situa-se entre 0,5 e 1% do peso vivo nas últimas semanas que antecedem o desmame. Como preparação, o creep feeding reduz o “vale de estresse” pós-desmame, sustenta o ganho de peso e aumenta a uniformidade dos lotes. Além disso, esse sistema contribui para o aumento das taxas de prenhez das vacas, uma vez que reduz a intensidade do aleitamento, melhora o escore corporal e promove um balanço energético positivo, favorecendo o retorno ao cio.

A formulação do concentrado para creep feeding deve priorizar palatabilidade, digestibilidade e segurança ruminal, com inclusão mineral-vitamínica proporcional à ingestão prevista.

FAQ

1. Qual é a melhor idade para desmamar bezerros?

Em condições brasileiras, o desmame entre 6 e 8 meses é comum; no entanto, o momento ideal depende do peso, do consumo de sólidos, da condição corporal da vaca e da disponibilidade de pastagem. Em situações de seca ou manejo estratégico, pode-se optar pelo desmame precoce, desde que haja preparo nutricional adequado e acompanhamento técnico.

2. Quais são os métodos comuns de desmame de bezerros?

Os métodos mais utilizados são o desmame abrupto, o desmame pela cerca (fenceline weaning) e o desmame em duas etapas com dispositivos nasais. O creep feeding não é um método de separação, mas uma estratégia nutricional que prepara o bezerro para a transição alimentar, reduzindo o estresse e as perdas de desempenho.

3. Por que a nutrição animal é importante durante o desmame?

Porque sustenta o ganho médio diário, preserva a saúde intestinal e reduz a incidência de doenças associadas ao estresse, assegurando melhor desempenho nas fases de recria e terminação.